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O Jogo da Amarelinha

Sim, mas quem nos curará do fogo surdo, do fogo sem cor que corre ao anoitecer, pela rue de La Huchette, saindo dos portais carcomidos, dos pequenos vestíbulos, do fogo sem imagem que lambe as pedras e ataca os vãos das portas, como faremos para nos lavar da sua queimadura doce que persiste, que insiste em durar, aliada ao tempo e à recordação, às substâncias pegajosas que nos retêm deste lado, e que nos queimará docemente até nos calcinar? Então é melhor compactuar como os gatos e os musgos, travar amizade imediata com as porteiras de roucas vozes, com as criaturas pálidas e sofredoras que aparecem às janelas, brincando com um ramo seco. Ardendo assim, sem TRÉGUAS, suportando a queimadura central que avança como a madurez paulatina no fruto, ser o pulso de uma fogueira neste emaranhado de pedra interminável, caminhar pelas noites de nossa vida coma obediência do sangue no seu cego circuito.

Cortázar, início de O Jogo da Amarelinha

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